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quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Graciliano Ramos e seu pessimismo

O pessimismo sobre a vida é uma das características do autor. A desconfiança de Paulo Honório em relação a fidelidade de Madalena e seus olhares e sorrisos para Padilha e Nogueira, faz com que Paulo não durma a noite. O dono de São Bernardo, maltrata todos em sua volta, um de seus trabalhadores, Marciano, leva uma surra por não ter alimentado os porcos.
Seu Paulo é um homem cheio de ambições, tanto que casa-se com Madalena para ter um herdeiro que cuide de suas terras, uma de suas maiores manipulações.
Esses ataques constantes de ciúmes faz com que Madalena suicíde-se. Paulo Honório cai em desgraça após a morte de sua esposa, mostrando que não há como ser feliz.

Opinião do leitor

A meu ver, Graciliano Ramos, através de Paulo Honório faz uma severa crítica aos capitalistas que, na visão do autor, por sua ambição por poder e dinheiro, não medem esforços para alcança-los. Depois veio a “posse” de Madalena.
São Bernardo retrata, ao contrário do que ocorre em Vidas Secas (também de Graciliano), os nordestinos que permanecem na sua terra. É o sertão nu e cru, com todos os ingredientes. Apesar desta abordagem, não se pode encarar a obra como apenas uma denúncia social, mas a descrição e análise da alma humana Dessa forma, São Bernardo nos apresenta como uma obra fundamental não apenas do Modernismo Brasileiro, mas de toda nossa literatura.

A obra

São Bernardo é um romance publicado em 1934 pelo escritor alagoano Graciliano Ramos(1892-1953), principal nome do movimento literário brasileiro conhecido como Geração de 30, sendo a prosa deste movimento classificada como romance regionalista (Nordeste). Ao lado de Graciliano Ramos no movimento, há outros escritores de destaque  como José Lins do Rego, Rachel de Queiroz, Jorge Amado e Érico Veríssimo. Trata-se de uma literatura de caráter construtiva, madura e com legado das conquistas estéticas da geração de 1922. Sua principal característica foi a denúncia social, retratando fielmente a realidade do nosso povo.
A técnica de São Bernardo é marcada por uma linguagem dura, seca, fria e objetiva. Não há rodeios ou grandes momentos de descrição. Graciliano Ramos procura ser o mais objetivo possível e, ao contrário do que alguns possam achar, trata-se de uma escolha correta, pois combina perfeitamente com a história narrada no romance. Não há uma palavra a mais ou a menos em cada passagem do livro.

sábado, 20 de agosto de 2011

Personagens

Paulo Honório e Madalena são os protagonistas desta obra. Paulo Honório, pela trajetória de sua vida, é o capitalista tacanho, homem que se faz por si mesmo, que se tornou superior à sua classe, passando de trabalhador braçal a proprietário. Para realizar esta travessia, foi necessária a sua desumanização através da qual pode exercer o domínio sobre os outros: matando, roubando, mentindo, trapaceando.
 Madalena, a professora loura e de olhos azuis, de quase trinta anos, que se recusa a ser objeto de posse de Paulo Honório, é o avesso dele: de grande sensibilidade, preocupada com as condições de vida dos trabalhadores, incapaz de assumir a passividade da condição de esposa, sente necessidade de trabalhar e de andar pela fazenda, o que a leva a rejeitar o mundo de Paulo Honório.
 Luís Padilha: o antigo dono de São Bernardo, é um personagem profundamente antipatizado pelo narrador. Fraco, submisso, covarde, ele ensina “comunismo” aos trabalhadores como professor da escola de São Bernardo.
Marciano: Velho e doente, marido de Rosa, a mulher com quem Paulo Honório tinha encontros sexuais clandestinos.
Padre Silvestre: descrito como uma personalidade estreita, que, impossibilitado de admitir coisas contraditórias, lê apenas as folhas da oposição. Danadamente liberal, “anda no mundo da lua”, no dizer de Paulo Honório.
João Nogueira: o advogado que o auxiliou nas falcatruas.
Azevedo Gondim: o jornalista, o primeiro mais moderado e o segundo mais radical, são exemplos do pensamento conservador da oligarquia, ardente e confusamente defendida por João Nogueira no romance. A imprensa – representada por Gondim e também pelo Brito, o jornalista surrado por Paulo Honório por difamá-lo – aparece em sua corrupção e venalidade, e também em sua linguagem retorcida, criticadas e ironizadas pelo narrador.
Seu Ribeiro: o guarda-livros a cuja história de vida Paulo Honório dedica um capítulo, de Major do lugarejo em que morava, fazendo as vezes de justiceiro e de homem sábio em várias funções, passou a indigente solitário, devido à vinda do progresso. Paulo Honório demonstra simpatia por ele, uma vaga solidariedade que destoa do seu habitual desrespeito pelas pessoas e que se acentua em outros personagens.
Casimiro Lopes: o capanga que tem “faro de cão e fidelidade de cão”, crédulo como um selvagem, o único a se interessar pelo filho abandonado por todos, cantando para o embalar as cantigas do sertão, possui a estima de Paulo Honório. Ele inclusive se identifica com o capanga, nos momentos de grande solidão.
Margarida: a preta velha que o criou, é outro referencial afetivo do narrador: ele a redescobre, manda buscá-la e a alimenta em São Bernardo.
D. Glória: tia de Madalena avessa ao campo e cuja urbanidade o irritava – quando esta se vai, após a morte de Madalena.

Vídeo sobre vida de Graciliano!

Encotramos no youtube um pequeno curta sobre a vida de Graciliano. O vídeo, de 28:05 minutos de duração, foi feito pela TV Escola. A série que apresenta os maiores escritores do Brasil, como Rachel de Queiroz e José Lins do Rego e outros mestres, chama-se "Mestres da Literatura".
http://www.youtube.com/watch?NR=1&v=TIIJqzbsd8Q

Características da Obra

São Bernardo é um romance narrado em primeiro pessoa no qual o narrador-personagem Paulo Honório narra a história de sua vida, desde sua ascensão à sua decadência economica. Nesta narrativa, nota-se que o protagonista escreve um livro com um único e claro objetivo: compreender a razão do suicídio de sua esposa, Madalena. Através de suas lembranças e da análise dos fatos , o narrador tenta alcançar seu objetivo.
Não obstante, o leitor rapidamente nota que o narrador nunca obterá êxito em sua “empreitada”.
A narrativa de Paulo Honório demonstra incessantemente sua angustia, embora este tente, a todo custo, escondê-la. Embora durante toda a narrativa o protagonista não relate que alguma vez tenha demonstrado seu amor à sua esposa, para o leitor não resta dúvida da existência deste. Talvez o orgulho de Paulo Honório seja a razão de sua frieza quando fala sobre Madalena.
Na interpretação desta obra, a incansável ambição de Paulo Honório foi o motivo de sua desumanização ao longo do livro.

Filme!

Encontramos um filme sobre a obra para download.
O filme teve direção de Leon Hirszman e tem duração de 114 min.
< Download no Link a baixo >
http://setimoprojetor.blogspot.com/2009/03/sao-bernardo-leon-hirszman-1972.html

Sobre o autor

Graciliano Ramos


"Começamos oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas
com a Delegacia de Ordem Política e Social, mas, nos
estreitos limites a que nos coagem a gramática e a lei,
ainda nos podemos mexer"

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 Graciliano Ramos nasceu no dia 27 de outubro de 1892, na cidade de Quebrangulo, sertão de Alagoas, filho primogênito dos dezesseis que teriam seus pais, Sebastião Ramos de Oliveira e Maria Amélia Ferro Ramos. Viveu sua infância nas cidades de Viçosa, Palmeira dos Índios (AL) e Buíque (PE), sob o regime das secas e das suas que lhe eram aplicadas por seu pai, o que o fez alimentar, desde cedo, a idéia de que todas as relações humanas são regidas pela violência. Em seu livro autobiográfico "Infância", assim se referia a seus pais: "Um homem sério, de testa larga (...), dentes fortes, queixo rijo, fala tremenda; uma senhora enfezada, agressiva, ranzinza (...), olhos maus que em momentos de cólera se inflamavam com um brilho de loucura".

Em 1894, a família muda-se para Buíque (PE), onde o escritor tem contacto com as primeiras letras.

Em 1904, retornam ao Estado de Alagoas, indo morara em Viçosa. Lá, Graciliano cria um jornalzinho dedicado às crianças, o "Dilúculo". Posteriormente, redige o jornal "Echo Viçosense", que tinha entre seus redatores seu mentor intelectual, Mário Venâncio.

Em 1905 vai para Maceió, onde freqüenta, por pouco tempo, o Colégio Quinze de Março, dirigido pelo professor Agnelo Marques Barbosa.

Com o suicídio de Mário Venâncio, em fevereiro de 1906, o "Echo" deixa de circular. Graciliano publica na revista carioca "O Malho" sonetos sob o pseudônimo de Feliciano de Olivença.

Em 1909, passa a colaborar com o "Jornal de Alagoas", de Maceió, publicando o soneto "Céptico" sob o pseudônimo de Almeida Cunha. Até 1913, nesse jornal, usa outros pseudônimos: S. de Almeida Cunha, Soares de Almeida Cunha e Lambda, este usado em trabalhos de prosa. Até 1915 colabora com "O Malho", usando alguns dos pseudônimos citados e o de Soeiro Lobato.

Em 1910, responde a inquérito literário movido pelo Jornal de Alagoas, de Maceió. Em outubro, muda-se para Palmeira dos Índios, onde passa a residir.

Passa a colaborar com o "Correio de Maceió", em 1911, sob o pseudônimo de Soares Lobato.

Em 1914, embarca para o Rio de Janeiro (RJ) no vapor Itassuoê. Nesse ano e parte do ano seguinte, trabalha como revisor de provas tipográficas nos jornais cariocas "Correio da Manhã", "A Tarde" e "O Século". Colaborando com o "Jornal de Alagoas" e com o fluminense "Paraíba do Sul", sob as iniciais R.O. (Ramos de Oliveira). Volta a Palmeira dos Índios, em meados de 1915, onde trabalha como jornalista e comerciante. Casa-se com Maria Augusta Ramos.

Sua esposa falece em 1920, deixando quatro filhos menores.

Em 1927, é eleito prefeito da cidade de Palmeira dos Índios, cargo no qual é empossado em 1928. Ao escrever o seu primeiro relatório ao governador Álvaro Paes, “um resumo dos trabalhos realizados pela Prefeitura de Palmeira dos Índios em 1928”, publicado pela Imprensa Oficial de Alagoas em 1929, a verve do escritor se revela ao abordar assuntos rotineiros de uma administração municipal. No ano seguinte, 1930, volta o então prefeito Graciliano Ramos com um novo relatório ao governador que, ainda em nossos dias, não se pode ler sem um sorriso nos lábios, tal a forma sui generis em que é apresentado. Dois anos depois, renuncia ao cargo de prefeito e se muda para a cidade de Maceió, onde é nomeado diretor da Imprensa Oficial. Casa-se com Heloisa Medeiros. Colabora com jornais usando o pseudônimo de Lúcio Guedes.

Demite-se do cargo de diretor da Imprensa Oficial e volta a Palmeira dos Índios, onde funda urna escola no interior da sacristia da igreja Matriz e inicia os primeiros capítulos do romance São Bernardo.

O ano de 1933 marca o lançamento de seu primeiro livro, "Caetés", que já trazia consigo o pessimismo que marcou sua obra. Esse romance Graciliano vinha escrevendo desde 1925.

No ano seguinte, publica "São Bernardo". Falece seu pai, em Palmeira dos Índios.

Em março de 1936, acusado — sem que a acusação fosse formalizada — de ter conspirado no malsucedido levante comunista de novembro de 1935, é demitido, preso em Maceió e enviado a Recife, onde é embarcado com destino ao Rio de Janeiro no navio "Manaus". com outros 115 presos. O país estava sob a ditadura de Vargas e do poderoso coronel Filinto Müller. No período em que esteve preso no Rio, até janeiro de 1937, passou pelo Pavilhão dos Primários da Casa de Detenção, pela Colônia Correcional de Dois Rios (na Ilha Grande), voltou à Casa de Detenção e, por fim, pela Sala da Capela de Correção. Seu livro "Angústia" é lançado no mês de agosto daquele ano. Esse romance é agraciado, nesse mesmo ano, com o prêmio "Lima Barreto", concedido pela "Revista Acadêmica".

Foi libertado e passou a trabalhar como copidesque em jornais do Rio de Janeiro, em 1937. Em maio, a "Revista Acadêmica" dedica-lhe uma edição especial, de número 27 - ano III, com treze artigos sobre o autor. Recebe o prêmio "Literatura Infantil", do Ministério da Educação", com "A terra dos meninos pelados."

Em 1938, publica seu famoso romance "Vidas secas". No ano seguinte é nomeado Inspetor Federal do Ensino Secundário no Rio de Janeiro.

Em 1940, freqüenta assiduamente a sede da revista "Diretrizes", junto de Álvaro Moreira, Joel Silveira, José Lins do Rego e outros "conhecidos comunistas e elementos de esquerda", como consta de sua ficha na polícia política. Traduz "Memórias de um negro", do americano Booker T. Washington, publicado pela Editora Nacional, S. Paulo.

Publica uma série de crônicas sob o título "Quadros e Costumes do Nordeste" na revista "Política", do Rio de Janeiro.

Em 1942, recebe o prêmio "Felipe de Oliveira" pelo conjunto de sua obra, por ocasião do jantar comemorativo a seus 50 anos. O romance "Brandão entre o mar e o amor", escrito em parceria com Jorge Amado, José Lins do Rego, Aníbal Machado e Rachel de Queiroz é publicado pela Livraria Martins, S. Paulo.

Em 1943, falece sua mãe em Palmeira dos Índios.

Lança, em 1944, o livro de literatura infantil "Histórias de Alexandre". Seu livro "Angústia" é publicado no Uruguai.

Filia-se ao Partido Comunista, em 1945, ano em que são lançados "Dois dedos" e o livro de memórias "Infância".

O escritor Antônio Cândido publica, nessa época, uma série de cinco artigos sobre a obra de Graciliano no jornal "Diário de São Paulo", que o autor responde por carta. Esse material transformou-se no livro "Ficção e Confissão".

Em 1946, publica "Histórias incompletas", que reúne os contos de "Dois dedos", o conto inédito "Luciana", três capítulos de "Vidas secas" e quatro capítulos de "Infância".

Os contos de "Insônia" são publicados em 1947.

O livro "Infância" é publicado no Uruguai, em 1948.

Traduz, em 1950, o famoso romance "A Peste", de Albert Camus, cujo lançamento se dá nesse mesmo ano pela José Olympio.

Em 1951, elege-se presidente da Associação Brasileira de Escritores, tendo sido reeleito em 1962. O livro "Sete histórias verdadeiras", extraídas do livro "Histórias de Alexandre", é publicado.

Em abril de 1952, viaja em companhia de sua segunda esposa, Heloísa Medeiros Ramos, à Tcheco-Eslováquia e Rússia, onde teve alguns de seus romances traduzidos. Visita, também, a França e Portugal. Ao retornar, em 16 de junho, já enfermo, decide ir a Buenos Aires, Argentina, onde se submete a tratamento de pulmão, em setembro daquele ano. É operado, mas os médicos não lhe dão muito tempo de vida. A passagem de seus sessenta anos é lembrada em sessão solene no salão nobre da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, em sessão presidida por Peregrino Júnior, da Academia Brasileira de Letras. Sobre sua obra e sua personalidade falaram Jorge Amado, Peregrino Júnior, Miécio Tati, Heraldo Bruno, José Lins do Rego e outros. Em seu nome, falou sua filha Clara Ramos.

No janeiro ano seguinte, 1953, é internado na Casa de Saúde e Maternidade S. Vitor, onde vem a falecer, vitimado pelo câncer, no dia 20 de março, às 5:35 horas de uma sexta-feira. É publicado o livro "Memórias do cárcere", que Graciliano não chegou a concluir, tendo ficado sem o capítulo final.

Postumamente, são publicados os seguintes livros: "Viagem", 1954, "Linhas tortas", "Viventes das Alagoas" e "Alexandre e outros heróis", em 1962, e "Cartas", 1980, uma reunião de sua correspondência.

Seus livros "São Bernardo" e "Insônia" são publicados em Portugal, em 1957 e 1962, respectivamente. O livro "Vidas secas" recebe o prêmio "Fundação William Faulkner", na Virginia, USA.

Em 1963, o 10º aniversário da morte de Mestre Graça, como era chamado pelos amigos, é lembrado com as exposições "Retrospectiva das Obras de Graciliano Ramos", em Curitiba (PR), e "Exposição Graciliano Ramos", realizada pela Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

Em 1965, seu romance "Caetés" é publicado em Portugal.

Seus livros "Vidas secas" e "Memórias do cárcere" são adaptados para o cinema por Nelson Pereira dos Santos, em 1963 e 1983, respectivamente. O filme "Vidas secas" obtem os prêmios "Catholique International du Cinema" e "Ciudad de Valladolid" (Espanha). Leon Hirszman dirige "São Bernardo", em 1980.

Em 1970, "Memórias do cárcere" é publicado em Portugal.

Bibliografia:

- Caetés - romance

- São Bernardo - romance

- Angústia - romance

- Vidas secas - romance

- Infância - memórias

- Dois dedos - contos

- Insônia - contos

- Memórias do cárcere - memórias

- Viagem - impressões sobre a Tcheco-Eslováquia e a URSS.

- Linhas tortas - crônicas

- Viventes das Alagoas - crônicas

- Alexandre e outros irmãos (Histórias de Alexandre, A terra dos meninos pelados e Pequena história da República).

- Cartas - correspondência pessoal.


Dados extraídos de livros do autor, internet e caderno "Mais!", da Folha de São Paulo, edição de 09/03/2003.

Resumo da narrativa

Paulo Honório, fazendeiro embrutecido, viúvo e solitário, aos cinqüenta anos decide escrever um livro para rever e entender sua vida. Inicialmente, imagina elaborar o livro com a colaboração de padre Silvestre, do advogado João Nogueira e de Azevedo Gondim, um jornalista, que seria responsável por reescrever em linguagem literária o relato. A escritura a tantas mãos é frustrada. Paulo Honório, então, desfaz o compromisso. Passa a construir a narrativa, solitariamente, e, durante quatro meses, sentado à mesa da sala de jantar, fumando cachimbo e bebendo café, recupera lembranças, como se sentisse obrigado a escrever e, emocionadamente, expõe e analisa a própria vida.

A narrativa de Paulo Honório

Paulo Honório foi um menino órfão, criado por uma negra doceira _ . Na infância, para sobreviver, guiava um cego e vendia cocadas. Mais tarde, passou a trabalhar na roça. Até dezoito anos trabalhou duro no sertão. Nessa época, já se mostrava um homem rude, hostil, quando, por desejo de lavar a honra, esfaqueia João Fagundes, matuto que se envolve com Germana, uma mulher que o iniciara sexualmente _ . É preso por três anos, nove meses e quinze dias. Durante a prisão, aprende a ler com o sapateiro Joaquim, esquece Germana e pensa apenas em juntar dinheiro, assim que ganhasse liberdade.

Sai da cadeia, empresta a juro, do agiota Pereira, cem mil-réis e passa a negociar redes, gado, e todo o tipo de miudeza pelo sertão. Enfrenta hostilidades, injustiças, sede, fome. Resolve impasses comerciais com ameaças e armas na mão, até que, com certas economias, retorna, em companhia de Casimiro Lopes, para sua terra, Viçosa, com o desejo inabalável de adquirir São Bernardo, a fazenda onde fora trabalhador alugado.

Para realizar seu intento, Paulo Honório inicia um jogo de intenções veladas e uma amizade falsa com Luís Padilha, herdeiro de São Bernardo, moço apaixonado por jogo, mulheres e bebida. Aos poucos, Paulo Honório ganha a confiança de Luís Padilha, filho de seu antigo patrão. Passa a incentivar e financiar projetos errados e ingênuos do inexperiente Padilha, com a intenção calculada de promover a ruína econômica e financeira do dono de São Bernardo _ . Com promissórias vencidas e pressionado violentamente por Paulo Honório, Luís Padilha se vê forçado a entregar a fazenda por um valor insignificante _ .

Proprietário da fazenda, Paulo Honório canaliza todo o seu espírito empreendedor e transforma as terras abandonadas de São Bernardo. Com a ajuda de Casimiro Lopes, manda matar Mendonça, fazendeiro vizinho, estendendo, assim, os limites das próprias terras. Consegue empréstimos em bancos, investe em máquinas, na plantação de algodão e mamona e desenvolve a fruticultura. Constrói estradas para escoar os produtos, impõe-se um ritmo exaustivo de trabalho, torna-se cada vez mais bruto, violento, comete injustiças, mete-se em negociatas. Estabelece uma rede de relacionamentos úteis que lhe garantem impunidade: conta com o apoio de Gondim, jornalista adulador, conquista Padre Silvestre e o advogado Nogueira, que o auxilia em trapaças e manipula, de acordo com os seus interesses, os políticos do local.

São Bernardo prospera e Paulo Honório contrata Sr. Ribeiro para escrituração dos livros de contabilidade; constrói uma escola para alfabetizar os empregados e, principalmente, para agradar ao governador de Alagoas. Contrata Padilha como professor, manda buscar a velha Margarida, a negra doceira que o criara, e lhe arranja moradia na fazenda _ .

Certa manhã, vivendo a satisfação da prosperidade, Paulo Honório decide casar-se, não porque estivesse enamorado por alguma mulher; a idéia de casamento lhe vem, quando percebe que necessitaria de um herdeiro para suas ricas terras. Começa, então, a elaborar mentalmente a mulher que procurava; chegou a avaliar a adequação das filhas e irmãs dos amigos. Nenhuma lhe agradava, até que conhece, na casa do juiz Magalhães, Madalena, uma professora primária. Impressionado com a moça, decide casar-se. Com a mesma energia, praticidade e determinação com que gerencia sua propriedade, toma informações sobre a vida de Madalena e, como em uma negociação, convence-a a casar-se com ele _ .

Madalena e sua tia Glória chegam à fazenda e, oito dias após o casamento, Paulo Honório se dá conta de que a rotina começa a ser alterada. Madalena, com sua delicadeza e humanidade, acode as necessidades de mestre Caetano, interessa-se pela vida dos empregados, dá opiniões sobre o trabalho precário do professor Luís Padilha, exige a compra de variados materiais pedagógicos e passa a dividir as tarefas de escrituração com Seu Ribeiro. Esse comportamento de Madalena, aos poucos, vai incomodando profundamente Paulo Honório, que a imaginava uma frágil normalista. Iniciam-se as brigas entre o casal: evidencia-se a personalidade violenta de Paulo Honório.

Desorientado por não dominar a mulher como controlava todas as pessoas à sua volta, Paulo Honório revela um ciúme excessivo; torna-se cada vez mais agressivo e expande os maus tratos a todos, que de algum modo, convivem com a mulher _ . O nascimento do filho não lhe ameniza as desconfianças; é torturado por fantasias de infidelidade, julga-se traído por Madalena.

Certa noite, durante a visita de Dr. Magalhães, Paulo Honório percebe que o juiz e Madalena conversam animadamente. Este fato lhe acrescenta mais dúvidas sobre a infidelidade da mulher. Durante a madrugada, atormenta-se por imaginar o prazer que um intelectual, como Dr. Magalhães, poderia despertar em Madalena. Compara-se ao juiz, sente-se bruto, inculto, convence-se de que a traição de Madalena era inevitável. Acusa-a grosseiramente de envolver-se com outros homens, numa cena de extraordinário ciúme _ .

No dia seguinte, encontra Madalena muito abatida, escrevendo uma carta. Aproxima-se da mulher e lê o endereço de Azevedo Gondim. Novamente, descontrola-se e exige que Madalena lhe entregue a carta. Discutem violentamente, Madalena rasga os papéis e acusa-o de assassino _ . Mais tarde, Paulo Honório acalma-se e percebe a brutalidade cometida; na verdade, sabia que Madalena era honesta. No entanto, não se esquecia do insulto. Acredita que Padilha teria revelado a verdade sobre o assassinato de Mendonça. Procura-o com a intenção de expulsá-lo da fazenda, quando o empregado lhe garante fidelidade e obediência, afirmando que Madalena soubera do fato por meio da população que contava várias histórias sobre a vida do marido.

As dúvidas sobre a infidelidade da mulher tornavam-se intoleráveis. Durante a noite, Paulo Honório passa a ter delírios: ouve passos, ruídos, convence-se da presença de amantes da mulher, enquanto esta encolhia-se na cama, não suportando tantas agressões e desconfianças. Agrava-se o sofrimento e a solidão de Madalena, que já não resiste aos ciúmes brutais e à tirania do marido. Sente-se degradada em sua dignidade, humilhada, mostra-se, inclusive, desinteressada pelo próprio filho _ .

Uma tarde, na torre da igreja, vendo Marciano procurar corujas, Paulo Honório avalia, do alto, a paisagem da fazenda. Detém o olhar nas extensas plantações, contempla com orgulho a propriedade, quando observa Madalena escrevendo. Desce da torre, confere o trabalho dos empregados, e, defronte do escritório, encontra no chão a folha de uma carta. É, então, tomado por intenso ódio e desconfiança. Lê e relê o fragmento de um texto e fica furioso por ter certeza de que se tratava de uma correspondência destinada a um homem.

Decidido acabar com aquele tormento, sai à procura de Madalena. Encontra-a serena, na saída da igreja. Exige explicações, exaspera-se, quer saber para quem a mulher escrevia. Madalena, de maneira meio estranha e desanimada, lhe diz que as outras folhas que compunham a carta estavam sobre a bancada do escritório. Em seguida, pede-lhe perdão pelos aborrecimentos e afirma que os ciúmes do marido estragaram a vida dos dois. Sugere-lhe que seja amigo de tia Glória e sai da igreja. Paulo Honório passa a noite meio entorpecido no banco da sacristia.

Na manhã seguinte, quando chega a casa, ouve gritos horríveis. Madalena suicidara-se. Havia manchas de líquidos e cacos de vidro no chão. Sobre a bancada, havia um envelope com uma carta de despedida para Paulo Honório. Faltava uma página, exatamente aquela que ele havia encontrado, no dia anterior _ .

Após a morte de Madalena, D. Glória e Sr. Ribeiro deixam São Bernardo. Tem início a Revolução de 30, Padilha junta-se aos revolucionários; Paulo Honório passa a ter dificuldades nos negócios. Os limites da fazenda estão sendo discutidos judicialmente o Dr. Magalhães é afastado do cargo. Paulo Honório está abandonado.

Assim, em meio à profunda solidão, ouvindo insistentes pios de coruja, tendo Casimiro Lopes e o cachorro Tubarão por perto, Paulo Honório compõe a sua narrativa. Sentado à mesa da sala, fumando cachimbo e bebendo café, restaura o passado e percebe nitidamente a própria brutalidade; o processo de desumanização por que passou, enfrentando a vida rude no sertão. Tem consciência de que sua vida, orientada para os interesses externos, não somente o tornou egoísta e cruel, como também destruiu estupidamente as pessoas de suas relações. Incapaz de transformar-se, Paulo Honório busca algum sentido, algum equilíbrio para sua vida, refletindo sobre recordações e escrevendo a sua narrativa.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Opiniões

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